A estação Botafogo do Metrô carioca parou de servir os cafezinhos (meio mornos e com pó de quinta categoria) que vinham sendo oferecidos desde a "inauguração" da obra recente.
Qualquer bom observador pode notar, claro, que o resultado da tal "obra" não passa de pura maquiagem; as paredes cheias de infiltrações e fungos continuam lá – apenas estão escondidas sob placas coloridas. O projeto da coisa toda, aliás, é de um mau gosto atroz que já começa nas entradas de geometria duvidosa e desnecessariamente irregular, posto que apresentam um efeito estético pavoroso, muito piorado quando visto de alguns ângulos. Por sinal, o suposto "modernismo" da decoração – uma tentativa tosca de emular um estilo geométrico à la Mondrian que só faz agredir os olhos, em toda a glória de sua palheta de cores semi-fosforecentes – simplesmente não combina com o que "sobrou" do decor anterior, destoando totalmente das pastilhinhas verde-sujo antiquadas que ainda restaram aqui e ali.
Pior foi o que fizeram em uma das entradas, que tem uma rampa descendente. Algum "especialista" responsável por essa comédia de erros resolveu, em determinado momento, encerar o piso de cerâmica lisa. Resultado: o povo começou a, literalmente, escorregar ladeira abaixo, e não foram poucas as vezes em que observei mulheres de salto alto obrigadas a exibir-se em uma dança cômica para não se estatelar no chão (eu mesma passei por isso umas duas vezes e me achei completamente ridícula em ambas). A "solução" encontrada para o problema? Atravessar o chão com riscas diagonais de material anti-derrapante amarelo (complementando lindamente o azul-verde-laranja das paredes) que, menos de um mês depois, já começavam a se desgastar em vários pontos.
Diante desse exemplo, o seguinte texto disponível no site do Metrô ganha ares de ironia:
"Pensando nisso, o Metrô Rio iniciou um aprofundado estudo no intuito de identificar obstáculos arquitetônicos existentes nas estações e em seus entornos. Com base nesse estudo, a empresa procurou tecnologias disponíveis que pudessem ser adaptadas à realidade de cada estação a fim de eliminar barreiras físicas, atendendo assim às necessidades de todos."
Alguns irão afirmar que isso tudo é apenas uma questão estética. Eu admito; certamente há quem ache esse estilo de "design" (até me doi usar essa palavra) de interiores bonito. Afinal, há gosto pra tudo.
Mas, enquanto isso, os serviços continuam na progressiva corrida descendente iniciada com a inauguração do novo sistema de linhas.
É simplesmente impossível adivinhar o que se passava na cabeça da criatura (ou associação de criaturas) que resolveu tornar a estação Botafogo um ponto de baldeação para a Pavuna. A estação perceptivelmente não tem área suficiente para comportar o novo volume de passageiros (principalmente nos horários de pico) e o que se vê, diariamente, é uma turba de gente se empurrando, para entrar no trem, que frequentemente ameaça virar balbúrdia ou até violência. A coisa toda, aliás, lembra muito aquelas cenas de faroeste no qual os vaqueiros "tocam" o gado pra dentro do curral... Na confusão para embarcar, fiofó de bêbado não tem dono e todos os gatos são lebres: vai todo mundo junto, seja velhinho, gente com criança de colo, cego, deficiente, empresário, madame ou trabalhador braçal. E o mesmo se repete onde quer que haja mudança de linha – na estação Central, principalmente, a única explicação para ninguém ainda ter caido nos trilhos é uma provável intervenção divina (Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, deve bater ponto na Central, coitada).
E dá-lhe seguranças correndo pra lá e pra cá...
O que leva a uma outra triste constatação: nunca, em toda a sua história, o Metrô esteve tão sujo ou teve uma manutenção tão deficiente. Mais clientes significam, obviamente, uma produção de resíduos maior, assim como uma maior possibilidade de avarias nos equipamentos e materiais. Mas, qual a justificativa para que uma porta de passagem entre vagões (que deveria permanecer permanentemente fechada por motivos de segurança) permaneça com a fechadura quebrada durante mais de uma semana? E quanto aos vidros das janelas permanentemente emendados com fita adesiva? E os estofamentos dos assentos, originalmente coloridos, que assumiram uma cor quase fumê por conta da falta de limpeza? E o lixo no chão, meu Deus? Será que não dá pra varrer os vagões de vez em quando?
Isso sem contar os atrasos, as filas intermináveis para comprar bilhetes... Na estação Botafogo pós-reforma, aliás, há 8 máquinas de venda automática que viraram elemento decorativo, porque estão encostadas num canto, carecendo de instalação, já faz um bom tempo...
Escapa, da interminável lista de problemas, a cordialidade de alguns funcionários (uma bilheteira da Central que está sempre sorridente, um segurança da Siqueira Campos que não se furta a ajudar quem entra de bicicleta na estação). Entretanto, creio essa boa educação não é fruto de treinamento; essas pessoas seriam boa gente em qualquer lugar.
Ok, este é um post recheado de mau humor. Mas quem é obrigado a "usufruir" dos serviços do Metrô diariamente há de compreender que é um mau humor justificado, e não uma simples demonstração de ranhetice*.
* Por falar em ranhetice: devo ser muito obtusa mesmo, porquê não consigo captar porque tantas pessoas de idade, obviamente aposentadas, precisam saracotear pela rua durante os horários de pico, quando o volume de passageiros é maior e há menos lugares disponíveis. Claro que os velhinhos também têm o direito (de modo geral, adquirido e muito justificado) de passear e resolver problemas fora de casa. Mas, não seria melhor e mais confortável esperar todo mundo chegar no trabalho? De qualquer forma, enquanto tenho pernas funcionais, não me custa ceder o lugar a um idoso – desde que a criatura não me fuzile com um esgar de repreensão antes mesmo de saber se vou oferecê-lo. 'Inda outro dia, uma velhota até me deu um cutucão, acompanhado de um singelo "Deixa eu sentar aí!" (tadinha, de tão senil deve ter esquecido a educação...). Levantei "no susto" mas ela deveria ter incomodado mesmo o camarada sentado ao meu lado, na faixa dos 30 anos, claramente menos "cansado de guerra" do que eu e que – surpresa! – deu uma de "João sem braço" e fez que não viu nada. Definitivamente, devo ter cara de quem não gosta de viajar sentada (ou de otária), porque quase sempre acabo viajando de pé. E olhem que não ando com a coluna em muito bom estado...
E os cartazes repletos de auto-indulgência espalhados pelas paredes das estações continuam alardeando a qualidade dos serviços do Metrô... Eita, Brasil!
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Há 4 meses
2 comentários:
Quero só ver quando chegar a Copa e as Olimpíadas...
Vai ser uma piada!
Eu me diverti muito com o seu post. Agora preciso comentar que o segundo parágrafo é algo de paradoxal. Como pode uma coisa feia ser descrita de forma tão bela?! Fiquei morrendo de vontade de enxergar o Mondrian naquilo tudo!!
Beijos!!!
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