Ludo – o ferret.
Se minha vida fosse um filme e cada um de meus bichos tivesse uma função narrativa, Ludo seria o comic relief. Grande, gordo e desengonçado como ele só, o pequeno era uma figura cômica por excelência – um verdadeiro "Jerry Lewis" em forma de ferret, sempre tropeçando e dando topadas nas paredes e nos móveis*.
* De fato, se um ser humano desse tantas cabeças por dia quanto um ferret, o número de atendimentos por traumatismo craniano, nas emergências dos hospitais, seria consideravelmente maior... Ferrets são muito cabeça dura – seja no sentido literal ou no figurado.
Ludo tornou-se personagem da minha história num dia ensolarado em que eu e meu ex-marido, satisfeitos após nos empanzinarmos de comida mineira em um restaurante próximo à pet shop, sucumbimos ao súbito impulso de adquirir mais um ferret. Naquele dia, entretanto, a sorte sorriu para a menorzinha dos quatro pequenos que então compartilhavam a diminuta gaiola da loja: Galadriel arrebatou meu coração ao receber-me com "lambeijinhos", muito embora meu ex-marido tenha-se apaixonado pelo "grandão".
Cerca de um mês depois, voltei à loja para comprar ração e o gorducho ainda estava lá, agora completamente sozinho e visivelmente obeso pela carência de exercício e cuidados durante seus quase seis meses de vida – certamente havia sido seguidamente preterido por não ser tão belo e esbelto quanto os demais de sua "remessa". Vê-lo naquela situação desesperadora pôs por terra qualquer dúvida de que também ele estava em meu destino, e pus-me a barganhar com o dono da loja por melhores condições de pagamento.
"Que nome você dará a ele?" – a vendedora perguntou, enquanto eu assinava o termo de responsabilidade exigido pelo IBAMA. Como meus bichos sempre me "informam" seus nomes, olhei bem fundo nos olhos do gorducho e imediatamente me veio à mente a personagem monstruosa, mas cheia de candura, do filme Labirinto. E foi assim que, minutos depois, Ludo seguiu para sua nova casa, escondido em uma grande caixa de papelão.
Ludo, na versão do cinema. © The Jim Henson Company
Meu maior receio ao apresentar Ludo a seus "irmãos" foi a probabilidade de que acontecesse alguma dificuldade de adaptação. Afinal, Driel havia sido introduzida no ambiente há pouco tempo... Será que Frodo e Merlin aceitariam outro ferret, ainda por cima macho e quase adulto? Minha apreensão, entretanto, demonstrou-se totalmente infundada: os próprios pequenos se encarregaram das "apresentações formais" (foi uma cheiração de bumbum atroz – sempre imagino como seria se os humanos fizessem o mesmo...) e, antes do fim do dia, o novo membro da família já parecia plenamente à vontade em seu lar. E como ele estava feliz!*
* Os países de língua inglesa chamam a "risada" dos ferrets de "dook-dook" mas, na verdade, o som se parece mais com "có-có-có". É inacreditável, mas os ferrets cacarejam! E Ludo era uma "galinhazinha" muito tagarela...
No dia seguinte, como tudo corria bem, resolvemos mostrar a Ludo uma das brincadeiras preferidas da galerinha e recortamos uma "porta de rato" na caixa de papelão em que eu o havia trazido, para que eles pudessem disputar o posto de "rei da toca".
Jamais esquecerei a reação do pequeno ao ver-me aproximar com a caixa na mão: ele me lançou um olhar nitidamente apavorado, deu um piparote para trás e foi-se esconder, todo encolhido e tremendo, no canto mais distante da área de serviço. Imediatamente, compreendi: ele reconhecera a caixa em que havia sido transportado no dia anterior e achava que eu o levaria embora daquela nova casa de que tanto gostara!
Um relato como esse pode parecer duvidoso para quem não convive com ferrets. Mas, além possuir uma tremenda capacidade de observação, esses animaizinhos também são dotados de uma memória prodigiosa. E não foram poucas as vezes em que presenciei essas qualidades sendo postas em prática.
Frodo, meu primeiro ferret, tinha duas bolinhas de plush com guizo – seus brinquedos preferidos – que guardava invariavelmente no mesmo lugar: o segundo escaninho da esquerda para a direita, no bar. Sempre que o soltávamos na sala a primeira coisa que ele fazia era checar se as bolinhas continuavam lá*! Claro que esse poderia ser um mero comportamento condicionado – não fosse o fato dele ter feito exatamente a mesma coisa na primeira vez em que o soltamos depois de um período de alguns meses durante o qual a sala ficou interditada para os ferrets, por conta de uma reforma necessária no sofá.
* Vê-lo fazendo isso se tornou algo tão habitual, para mim, que as bolinhas continuaram no mesmo lugar por alguns anos após a partida do pequeno e só foram "desencantadas" outro dia, por um dos gatos!
Finalmente, eis um último causo, só para fechar este texto com "chave de ouro": nosso quarto, onde também costumávamos soltar os peludinhos, tinha uma cama do tipo americano. Uma noite, demos por falta de Merlin (sempre ele!) e fomos encontrá-lo dentro do colchão, passeando alegremente por entre as molas – ele e Frodo haviam feito um buraco de uns 15cm no forro da cama. Como colchões de molas são uma das principais causas mortis acidentais de ferrets, o quarto obviamente tornou-se território proibido até resolvermos o problema, seis meses depois.
Preciso contar o que os dois fizeram quando voltaram ao quarto?
6 comentários:
Hahahah to rindo aqui do colchão! Essa historia foi fofa por completo!
Ei, me chamaram a atenção os nome! Pelo visto, é fã de épicos igual a mim! Merlin, Frodo, Galadriel e Ludo!! Posso pedir? Posso, posso?
Tira foto dos que voce tem agora e posta pra gente ver!
Beijocas
Tu tens Orkut, moço? Me ADD pq tem foto de toda a bicharada no meu perfil... ;-)
E, sim - sou completamente viciada em literatura de fantasia... Rsrsrsrs
Nossaaaa....eu simplismente me encantei pelas coisas que você relatou, histórias,dicas....tudo ,tudo!!!
Até me ví em algumas situações...
Tem algumas semanas que estou pesquisando sobre os ferrets, desde 1998 ,quando um professora levou seu ferret para nos apresentar, fiquei encantanda com essas figurrinhas.
Consegui realizar meu sonho dia 05/04/2009,comprei meu primeiro filhote, estava ficando frustrada por não ter conseguido.
Agora que tenho meu cantinho, e um namorido que adora animais foi uma ótima pedida.
Moro num apertamento com um poodle que mais parece um ser humano do que um cachorro.
Minha princesa chama Sophia e tem 4 meses, os dois biximmmm se dão super bem, ela pula nele e ele cuida dela.
O que me parte o coração é que saio de casa as 7 da manhã e volto só as 22:30, Sophia fica na gaiola o tempo todo, qndo chego em casa solto ela até meu namorado chegar em casa(00:00), depois prendo novamente.
Ela tem um quarto só pra ela, muitos brinquedos, mas fico muito preocupada em deixa-la solta esse tempo todo sozinha.No quarto que ela fica tem um guarda -roupa, uma mesa de pc, uma sapateira e uma esteira que por sinal ela ama entrar por baixo e ficar no motor, mesmo desligada fico desesperada qndo isso acontece, vai que ela se machuca,né.
E na lavanderia não tem como eu deixa-la solta pois tem maquina de lavar e um ralo gigante que se ela tentar... passa facinho.
Olha eu já relatando a vida aqui no seu blog....rsrsrs....
estarei sempre acompanhando , adorei suas histórias!!!!!
bjs
sucessooooo
Oi, Juliana! Obrigada pela presença e pelos elogios. :-)
Querendo alguma dica (inclusive do que fazer para deixar a pequena mais tempo solta - Rsrsrs), entre em contato!
Tadiiiinho do Ludo, me cortou o coração o medo dele de ser mandado embora.... :(
OLÁ PATI, GOSTARIA DE UMA SUGESTÃO SIM!!!
BJS
Postar um comentário