A notícia me bateu como uma bomba, há alguns meses: Terry Pratchett, prolífico criador da série Discworld, sofre do Mal de Alzheimer. A doença foi detectada precocemente e, aparentemente, é de um tipo raro que demora a demonstrar seus efeitos deletérios, mas a verdade é inexorável: a literatura mundial, em breve, perderá um de seus mais brilhantes cérebros.
Pratchett, laureado com diversos prêmios literários e detentor de quatro doutorados, é um dos mais relevantes autores satíricos/infanto-juvenis contemporâneos e líder de vendas na Grã-Bretanha, permanecendo há quase uma década no top ten do jornal Sunday Times. Seus livros já tiveram tradução para 33 línguas, ultrapassaram 45 milhões de cópias vendidas mundialmente e foram transformados em merchandise (incluindo brinquedos, jóias, produtos de vestuário e videogames) e especiais para televisão (o mais recente é o filme The Color of Magic, baseado no primeiro volume da série Discworld).
No Brasil, Pratchett é publicado pela Conrad Editora, que procura fazer um respeitoso trabalho de tradução e edição. Infelizmente, nossas livrarias costumam esconder os livros na seção infanto-juvenil, o que não lhes dá a melhor exposição e talvez explique o fato do autor ainda não ter adquirido a popularidade merecida, por essas bandas.
Pratchett reagiu à notícia de sua doença de forma estóica e com o mesmo bom humor que permeia seus escritos. Desde então, se tornou Patrono do The Alzheimer’s Research Trust e vem trabalhando ativamente em campanhas de conscientização e angariação de fundos para pesquisa (tendo, ele mesmo, doado uma quantia considerável). E, para júbilo de seus fãs, recusou-se a parar de produzir: seu último livro, Nation (um romance infanto-juvenil), já é campeão de vendas na Grã-Bretanha, onde teve mais de 20 mil exemplares comercializados em apenas uma semana.
O ano de 2008 marcou o aniversário de 25 anos de Discworld, a mais célebre cria de Pratchett e uma das mais longas séries de fantasia de todos os tempos (totalizando, até o momento, 36 livros). É um mundo quase como o nosso, exceto por alguns "detalhes": é chato como uma pizza e sustenta-se nas costas de quatro elefantes que, por sua vez, se apóiam nas costas de uma tartaruga gigante*, a Grande A'Tuin, que segue vagando pelo espaço numa inexorável viagem até... bem, ninguém sabe exatamente, mas os "cientistas" do Discworld cogitam que A'Tuin provavelmente procura um parceiro para reprodução (e encontrá-lo, obviamente, significará o Fim do Mundo).
* Em referência explícita à mitologia hinduísta.
O universo de Discworld é regido pela magia e habitado por magos, bruxas, heróis e outros personagens fantásticos arquetípicos, mas não como os tantos outros universos literários de mesma inspiração – porque as histórias que lá se passam são repletas de humor (geralmente, muito negro) e seus protagonistas nem sempre são como deviam, agem como esperado ou atingem os resultados usuais. No Discworld, os magos são aparvalhados, um grande herói pode se esconder na pele de um velhinho totalmente gagá e a criatura mais poderosa de todas ser um baú mágico inteligente, dotado de perninhas e totalmente indestrutível. E "O" Morte (porque, no Discworld, Morte é do gênero masculino) nem sempre é muito assustador – já foi até "demitido".
É, pois, um mundo imperfeito, incompleto, inconstante e totalmente imprevisível.
No fundo, o Discworld é mesmo assutadoramente semelhante ao nosso mundo (embora, em certo contexto, seja muito menos "chato"). E, nesse paralelo sagaz e inebriantemente ferino, a genialidade de Prattchet pode ser vislumbrada em suas melhores cores – todas elas completamente mágicas.
Para uma ótima entrevista com Pratchett (em inglês), acessem o Times Online.
Mais informações sobre Pratchett, o Discworld e seus demais trabalhos podem ser obtidas nos sites Terry Pratchett UK e Discworld Informer.
Embalagem de Bolos de Aniversário: Dicas
Há 2 meses
2 comentários:
Pat!
Passei um meme pra você, faça quando e se quiser.
Depois eu leio pq agora irei almoçar.
Beijas!!!
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