Ontem à noite, foi-se minha Drielzinha, aos oito anos e meio de idade. Uma vida longa, em termos de ferret – mais ou menos o equivalente a um cão que viva uns 20 anos.
Acho que posso dizer que foi, também, uma vida feliz. Neste mundo no qual tantos animais são abandonados, maltratados e vivem de forma deplorável, Driel foi uma "princesinha" profundamente amada, protegida e que recebeu sempre tudo de melhor. Pode ter sido uma jornada árdua, às vezes, mas qualquer dificuldade sempre foi superada por tudo o que ela me oferecia em troca.
Os animais, afinal, sabem retribuir de um jeito que está além da capacidade de qualquer ser humano.
Driel foi uma típica compra por impulso. Era a menorzinha de um lote que havia acabado de chegar na
pet shop (na verdade, até hoje ainda não encontrei ferret menor ) e conquistou meu coração ao me receber com lambeijinhos, quando a peguei no colo. Como, na época, eu já tinha dois ferrets novinhos – meus dois primeiros, de forma que ainda estava engatinhando como "mãe" de mustelídeos –, contei até dez, resisti e fui almoçar mas... incentivada por uma caipirinha, acabei voltando à loja, de onde saí com uma caixa de papelão cheia de furos (o então marido, por sinal, havia simpatizado mais com um outro peludo – grandalhão e meio desengonçado – que também acabou indo parar lá em casa menos de um mês depois).
Chamei-a de Galadriel; o nome não poderia ter sido mais bem escolhido porque, o que tinha de pequeninia, ela tinha de voluntariosa, teimosa e corajosa, tal qual a rainha dos elfos do universo d
'O Senhor dos Anéis". Driel sabia se fazer presente e dava "corridas" até mesmo no irmão grandalhão, o Ludo.
Lá pros quatro ou cinco anos de idade, ela mastigou uns pedaços de uma barata que entrou em casa pela janela e acabou muito doente. Foram mais de seis meses de "perrengue" em quarentena, tratando um sério problema intestinal causado pela contaminação por dois tipos de verme, duas bactérias e um fungo que colocaram até o veterinário "de quatro". Mas, a menina se recuperou e seguiu sua vidinha, como se nada tivesse acontecido.
Ano passado, começaram os problemas para respirar. Radiografias e ultra revelaram um princípio de câncer linfático. Comecei a dar os remédios e Drielzinha não somente enfrentou tudo bravamente como se recuperou, sempre alerta, alegre e querendo atenção.
Mas o câncer e a idade, inevitavelmente, cobrariam seu preço.
Neste fim de semana Driel, finalmente, decidiu que era hora de partir e fez o que todo ferret faz nesses momentos: deitou-se quietinha no canto dela, parou de comer e beber e ficou pacientemente esperando que São Francisco viesse guiá-la em direção à ponte do arco-iris. Ferrets são mesmo assim: tão estóicos que chegam a desesperar.
Ontem, por volta das 21:30, ela partiu, auxiliada pelas mãos carinhosas dos doutores Rodrigo e Bianca, da clínica
Espaço Pet, que são sempre uma fonte de carinho, força, compreensão e solidariedade, em momentos como esse. A decisão de ajudar um animalzinho a partir é triste, dura e difícil, mas eu não podia deixar que minha peludinha sofresse mais.
Driel sobreviveu a seus irmãos Frodo, Merlin, Ludo, Sleepy e Kiko. Viu todos irem embora e permaneceu sempre do meu lado, transmitindo-me energia para suportar a saudade. Também acompanhou meu divórcio e a chegada dos gatos Lu, Lilica, Phoenix e Bastet, da cachorrinha Kira e dos ferrets Friga, Gandalf e Titânia, além do começo do segundo casamento. Foram oito anos e meio um tanto tempestuosos para mim, cheio de mudanças pessoais e profissionais; mas sua presença foi uma constante, sempre me servindo de bússola e porto seguro.
Missão cumprida, filha. Espero que você, aí onde está, saiba quantas vezes você e seus irmãos salvaram-me a vida e me deram forças para continuar.
Nunca mais os lambeijinhos no nariz.
Nunca mais as mordidinhas pedindo atenção.
Nunca mais o rabinho arrepiado pelo cafuné no cangote.
Nunca mais o "có-có-có" de alegria a saltitar pela casa.
Adeus, minha pequena. Mamãe te ama.