segunda-feira, 17 de novembro de 2008

 Sobre telefones, emails e a natureza humana

Todo mundo tem suas idiossincrasias. Por razões que sou completamente incapaz de determinar, sempre fui avessa a telefones. O problema não está em falar com as pessoas, porque adoro encontrar gente e sou capaz de atravessar quilômetros para rever um amigo – minha repulsa é pelo aparelho em si e chega às raias da fobia; alguma coisa em simplesmente ouvir a voz, mas não ver a expressão, me incomoda profundamente.

Observação pertinente: como o karma não perde a oportunidade de nos pregar peças, alguns amigos meus, muito queridos, não conseguem viver sem algumas horas semanais de chit-chat telefônico. Muitas vezes, comigo.

De forma que, quando o email começou a se popularizar como forma de comunicação, vi nele a alternativa ideal à invenção de Graham Bell. Claro que, em termos de tête-à-tête, ele é ainda mais impessoal que o telefone, mas o caráter de artesanato da palavra escrita me pareceu compensatório. A possibilidade de pensar com tranquilidade antes de falar, de incluir minúcias sem perder a clareza de raciocínio e de somente enviar a mensagem quando realmente "acabada" foi, pra mim, uma tentação irresistível. Me tornei uma aficcionada.

Fatos recentes, entretanto, contribuíram para que eu começasse a desenvolver uma certa aversão também aos emails. Não a enviá-los, mas a recebê-los.

Constatei que o email tornou-se a ferramenta dos covardes.

Quer dar um fim a um relacionamento sem ouvir "chororô"? Email. Acordou de "ovo virado" e precisa descarregar em alguém sem lhe dar qualquer chance de defesa?
Email. Aquele amigo de longa data não se adequa às suas atuais expectativas para o futuro? Email. Enfrentar cara a cara a opinião da outra parte talvez evidencie as suas próprias inseguranças? Email. A expectativa de encarar a fragilidade alheia, ou de descobrir uma força inesperada no outro, é apavorante? Email.

All with a clean cut. No blood spilled.

Me pergunto que espécie de fraqueza (ainda que transitória) leva alguém a esse tipo de atitude. De modo geral, é coisa masculina (fato, aliás, nada surpreendente). A natureza comunicativa das mulheres as impede de resolver problemas sérios sem o contato olho-no-olho, porque precisamos de todos os pingos dos "Is" claramente desenhados para sentir que uma situação está realmente concluída e seguir adiante. O que, muitas vezes, é tomado por "verborragia feminina" é, tão somente, uma necessidade de entender e fechar portas.

Observação pertinente 2: As minhas portas, evidentemente, encontram-se completamente escancaradas. E algumas janelas, também. Sem contar os ralos, que perderam todas as tampas.

Não se trata de fazer juízo de valor de gênero. Não considero os homens "piores" do que as mulheres (muito pelo contrário – nós podemos ser uns ossos tremendamente duros de roer, e chatas "pra dedéu"). Apenas me sinto numa urgência de clarificar, a quem interessar possa, que usar o email dessa forma é algo muito cruel e que pode criar feridas muito difíceis de sanar.

Mesmo quando o remetente têm alguma razão...

Fuças do mesmo bando!



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4 comentários:

disse...

Tenho horror a telefone também trabalho com isso. Agora é o fim terminar relacionamento por email. Muito feio!

Beijas!!!

Unknown disse...

Eu até gosto de um papinho no telefone...rsrsrsrs.
Vim te parabenizar pelo Blog, espero que ele seja uma válvula de escape e alegria sempre.
Quanto aos e-mails eu concordo com você, só que ás vezes eu preciso falar com pessoas cabeça dura(tipo meu maridôncio) por e-mail pois ele simplesmente não consegue me ouvir sem interromper e argumentar!!!Por e-mail fica mais fácil, ele lê e depoiis me liga!!!
beijo
Sheila

Beth Blue disse...

Ei, mais uma coisa que temos em comum então! Odeio telefone, mais ou menos pelas razões que você tão bem especificou neste post. E quanto a usar e-mails ao invés da velha e boa conversa olho no olho acho de uma tremenda covardia...embora em alguns casos até seja válido ;-)

Estou adorando seu blog.

disse...

Nossa senhora, tava escondiiiido isso aqui, hein?

Tenho a honra de ser uma das pessoas q a Pat OUVE, ao telefone, e ocasionalmente entabulamos animadas conversas por essa arcaico meio de comunicação! rsrsrsrs

Ainda bem q nossos contatos por e-mail sempre foram muito bem resolvidos, pq alguém acaba de ser muuuuuito desancado! Nuss!

Já fui vítima de "covardia e-mailica", mas não deixei barato, virei quase uma peste, depois!

Felizmente, a pessoa ocasionalmente nefasta se desculpou e percebeu q poderia ter feito mal a outro ser humano!

Mas às vezes pode ser melhor deixar quieto, por algum tempo.

Vc escreve bem, hein, danada!

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