domingo, 8 de fevereiro de 2009

 Sou criançona, sim. E daí?

Sinceramente, me espanta a quantidade de pessoas à minha volta exigindo que eu "cresça".

"Videogame é coisa de criança! Você não deveria mais gostar disso!" é apenas um dos inúmeros despautérios que sempre sou forçada a ouvir.

A pergunta que não quer calar é: por quê?

Por que, como exigência indissociável do "processo de crescimento", eu deveria deixar de apreciar as coisas que me faziam sorrir quando criança? Mais: porque eu deveria abandoná-las por coisas que considero totalmente enfadonhas (mas que são culturalmente consideradas "de gente grande"), se isso apenas satisfaria uma imagem social totalmente ilusória do que é ser um "adulto responsável" e me tornaria completa e miseravelmente infeliz?

Eu não me considero uma pessoa imatura. Como todo ser humano normal, tenho momentos de dúvida e insegurança durante os quais gostaria de poder gritar "Socorro!" e voltar a me esconder atrás da barra da saia da mamãe – mas são momentos muito fugidios que se vão tão logo meu cérebro, cujo crescimento foi perfeitamente finalizado pelas descargas hormonais da adolescência e anos de estudo oficial e oficioso, se põe a trabalhar para resolver a situação que está me incomodando.

Eu trabalho (muito), tenho contas mensais para pagar e lido com todos os problemas diários que uma mulher bem instruída, independente e divorciada (não necessariamente nessa ordem) deve enfrentar para sobreviver. Eu saio para beber – às vezes, um tanto demais – com os amigos e meus relacionamentos íntimos não se limitam mais a suspiros platônicos, um eventual "selinho" e andar de mãos dadas. Como toda mulher crescida, eu me preocupo com a minha aparência e procuro melhorá-la com truques de maquiagem, idas ao cabeleireiro e boas roupas.

O surgimento irrefreável das primeiras rugas já começa a me assustar.

Ao longo dos meus quase 40 anos, meus gostos mudaram em diversos aspectos. Meu paladar se tornou mais refinado e, hoje, sou uma apreciadora contumaz de saladas e sopas (pratos que me causavam asco quando pequena). Adoro experimentar novos sabores, principalmente as culinárias étnicas. Meu ouvido se tornou mais afinado e tolerante e aprendi a apreciar todos os tipos de música bem feita – seja ela MPB, jazz ou heavy metal. Minha idéia de diversão inclui tardes de literatura bem escrita e noites de teatro e bons shows.

Entretanto, eu ainda gosto de bichos de pelúcia, traquitanas coloridinhas de papelaria e histórias em quadrinhos de super-heróis. Adoro sorvete de 3 bolas no cascão que "baba" enquanto derrete, cajuzinho de festinha infantil, jujuba (somente as vermelhas e roxas), massa de bolo crua comida com a ajuda dos dedos e o barulho feito pelo canudo ao sorver as últimas gotas de um mik-shake. No salão que frequento, sou conhecida como a louca que muda a cor do cabelo a cada cinco minutos e só pinta as unhas de cores espalhafatosas (faço-o há quase 3 anos, enfrentando os olhares mais reprovadores e – vejam só! – qual é a última moda?).

Eu ainda me derreto pelas canções melosas de Barry Manilow e me divirto dançando disco music, principalmente se for Y.M.C.A. Meus filmes e seriados preferidos ainda são de aventura, horror, fantasia e ficção-científica e ir a uma sessão de desenho animado no cinema, comendo um pacotão de pipoca (que sei que será demais) com os pés apoiados na cadeira da frente é algo que me causa um prazer quase orgástico.

Eu ainda me esbaldo nos parques de diversão e em rolar no chão sujo abraçada a um cachorro.

E eu AMO jogar videogames.

Amadurecer não é deixar-se empedernir e perder o calor. Muito pelo contrário: é ganhar fluidez para abarcar o velho e o novo, indistintamente. É adquirir ferramentas para preservar a infância no coração e na alma e deixá-la aflorar nos momentos corretos. É manter o adulto e a criança sempre de mãos dadas, se oferecendo apoio quando preciso. É cuidar das responsabilidades mas, também, ter o conhecimento de que fazer o que se gosta não demanda dar satisfações. É nunca perder o frescor e a capacidade de gargalhar por abolutamente nenhuma razão além do prazer de ouvir o som borbulhante da alegria na própria voz.

Só quem percebe essa verdade, creio eu, tem alguma chance de se tornar realmente feliz e realizado. Eu acho que minhas chances são grandes.

Fuças do mesmo bando!



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5 comentários:

Beth Blue disse...

Pois seja criança e seja feliz! :-)
No mais, adulto que é adulto sabe que manter sua criança viva é fundamental pra sobreviver...sem falar que ser criança vez ou outra torna a vida mais suportável.

Eu não sou fã de games não (meu filho já está virando nerd, a geração dele já viu...). Mas amo filme infantil, sorvete, pipoca, bonecas, littlest pet shop, Polly Pocket e outras tranqueiras. E em breve pintarei a parede do meu quarto de cor-de-rosa! Tem gente que acha que eu pirei...Eu? Eu não estou nem aí ;-)

Cacau! disse...

Gostei!

Labelle® Paz disse...

Perfeito, Ferret !!

Lilly disse...

Vou postar.

Lilly disse...

Gostei tanto do seu post que vim aqui reler. É isso aí. Bom, na verdade já reli outros tb! Mas este coincidiu muito com alguns pensamentos que andam na minha cabeça.

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