quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

 Eu detesto gente que...

... faz campeonato de desgraça.

Não há quem não conheça alguma criatura assim:
  • Se você cai de cama devido a uma gripe, ela lhe conta sobre a ocasião em que quase morreu de gastroenterite e ficou internada durante 15 dias, sendo alimentada apenas no soro.
  • Você comenta que está com dor-de-cotovelo por uma desilusão amorosa, e ela desagua uma lista interminável de torturas sofridas durante seu divórcio litigioso.
  • Alguma situação no ambiente de trabalho incomoda? Não im-por-ta: ela acabou de ser demitida. E ainda lhe joga na cara que você não tem o direito de reclamar, porque a grande maioria da população brasileira em idade produtiva vive apenas da economia informal. Sem contar os pobrezinhos lá na África que ainda precisam lidar com a subnutrição, as guerras e a pandemia de AIDS!
Ave Maria!

Há gente que, simplesmente, não traz no DNA o gene do simancol. É uma gente totalmente incapaz de parar de cutucar o próprio umbigo, botar a cabeça zarolha para funcionar e perceber que, quando alguém está sofrendo, relatar um sofrimento ainda maior simplesmente não resolve. É até um tiro que pode sair pela culatra, porque exalar tanto baixo astral, certamente, deixa qualquer um ainda mais deprimido!

O que leva um ser humano a desenvolver essa mania de competir pelo prêmio de maior desventura? Necessidade de controle? Baixa auto-estima? Alguma noção distorcida de solidariedade? Ou seria mera vontade de espezinhar?

É claro que ninguém – pelo menos, ninguém privado de tendências sociopáticas – quer que as criancinhas da África passem fome. Mas, em termos de microcosmo, essa é uma questão (os deuses que me perdoem, mas é verdade) totalmente abstrata.

Não se trata de egocentrismo ou maldade, mas de um instinto de auto-preservação perfeitamente natural à espécie humana, anterior mesmo à época em que resolvermos ficar pelados e nos equilibrar sobre os dois pés. Lá na meiuca de nossa massa cinzenta, afinal, ainda existe um cérebro reptiliano que, de vez em quando, bota a cabecinha de fora e faz de tudo para estabelecer-se como o Alfa da "parada".

O cerne da questão é que, quando há uma dificuldade pessoal com consequências imediatas e tangíveis, o resto das agruras do mundo se torna extremamente irrelevante: uma simples unha encravada, para quem está com o dedão latejando de dor, é muito mais importante do que as guerras no Oriente Médio – ainda que o seja apenas momentaneamente.

Mesmo porque a dor é, em sua essência, uma atividade das mais solitárias.

O que se quer, nessas horas, não é sentir-se diminuído e humilhado pela maior intensidade da infelicidade alheia, mas receber alento. É ouvir coisas que acalentem, tranquilizem e ajudem o coração a encontrar forças e equilíbrio para solucionar o problema, lavar a alma e, somente então, plenamente recuperado, estender a mão e assumir a parcela cabida no cuidado do próximo e de suas aflições.

Felizmente, eu tenho amigos com boa genética...

Fuças do mesmo bando!



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4 comentários:

Lilly disse...

Ai meu Deus! Eu também detesto!!
Acabei de dizer que vc tava sumida. Coloquei um meme lá no blog... vê se responde.
bjos!

Pat Ferret disse...

Que rapidez no comentário! Rsrsrs

Lilly disse...

Pois é! Postei e olhei para o seu link e vi que tinha novidade!!!!

ahahaha... preciso comentar que a palavra de confirmação deste comentário é: cornes....

Anônimo disse...

Eu detesto ,mas detesto com todas as minhas forças, liçãozinha barata de moral.Tô de saco cheio. Uma vez reclamei pra uma amiga que estava mal por causa de poucas e boas que um ex namorado doido me aprontou, ao que ela responde e emenda" Vc deveria é ficar feliz pq vc é médica, tem emprego e tem carro. Tem gente que passa fome, que está desempregada e que não tem sequer um carro p/ andar" Algo do gênero. Como se o fato de ser médica e ter carro me conferisse imunidade aos problemas decorrentes de relacionamentos afetivos. Virei uma onça com a amiga e disse a ela poucas e boas.
Hoje vivo uma situação parecida, embora um pouco diferente, vc sabe. Vc sabe o momento que estou passando, a dor que sinto nesse momento, e tudo o que eu queria era um " te entendo e estou do seu lado", mas não. Tive que ouvir um sermão enorme criticando minha conduta em relaçao ao fato/ tive que escutar lenga lenga e conselhos sobre assuntos que não tinhm nada a ver com o motivo da minha tristeza, sobre os quais eu ~ NÃO tinha pedido opinião.E o " fala que te escuto", " entendo vc", " estou do teu lado", eu escutei de vc,Pat, que está longe, mas que teve alma p/ me entender...
beijos

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